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Parir e publicar livro, para mim é a mesma coisa.
Imagine a gestação, é a fase em que você escreve, escreve e escreve até a hora de levar para o prelo.
Aí você sofre, se preocupa, tem receio de que aconteça uma desventura.
Você sente a  dor de colocar no mundo algo seu: com o seu sobrenome,  a responsabilidade de dar um nome, um texto digno e uma capa que seja a sua cara.
Finalmente nasce e você dá graças a Deus por ele.
A única diferença de ter um filho e escrever um livro é que o filho você acompanha a vida toda
e o livro você deixa nas livrarias e ele não nos pertence mais.
Dizem que o livro é de quem o  lê.
O filho é seu para sempre.
Ainda bem.

Nós

Todos,

todos,

queremos um amor
que venha de sorriso largo
que chegue de muito bom grado
e se enrole no nosso cobertor.
Um amor pela urgência da paixão
Amor que nos leve ao céu
logo, logo, sem mais demora
e que feche o coração

 

para  as pessoas,outras.
Com tranca

e lotação esgotada.

Foto: http://www.sanatyelpazesi.com/showthread.php?2856-Koupaliantz-Elena-fig%FCratif-modern-resimler

Atravessei  a vida  mudando
de endereços
Não somente os de ruas , bairros,
becos
Mas toda sorte de mudanças,
corte a seco
Visuais, climáticos, suados riscos,
arabescos
Cabelos pintados de rosa, amarelo,
até pretos.
Roupas de linho, seda, algodão
e flanelas
Colégios, empregos, amigos,
vizinhos
Um mundo de gente,
tantos colarinhos
que amei demais e até me deixaram
sequelas.
Poderia ter tornado minha vida
devastada
Mas, ao contrário, plantei flores
coloridas
com sementes que brotam fé
pela estrada
e penso que vivi não uma,
mas várias vidas
carregando minhas loucuras,
minha história,
digitais da minha infância
ou rasuras,
guardados em caixas de cetim,
cartões postais.

Os pensamentos latejam

e me entorpecem

Como se o caminho fosse coberto

de névoa
Por intuição sigo às cegas,

descalça e sozinha
Na atmosfera densa,

sem mapa,

sem régua.

Sempre atravessei ventos fortes,

redemoinhos,

enfrentei desertos,

mares,

ondas,

enchentes
Até encontrar rasante,

maré mansa,

pianinha.

 

Nasci assim,

voando,

feita pro canto,

andorinha.

Este meu coração, sem dúvidas, é um grande pote lotado até as tampas de descobertas antigas, mapa de tesouros piratas, galeão espanhol naufragado na Serra da Divisa,

sob o comando do Monsenhor Teófilo Saez.

Tesouro que eu renovo a cada dia, sem nunca esgotar o manancial.

Foi lá, ao pé da serra que ele plantou uma igreja cujas paredes externas brilham como pedras preciosas, à luz do sol ou ao clarão do luar.

Bem-aventurados os filhos de Campos Gerais, nobres herdeiros do Monsenhor.

Daquele solo o milagre do pão se multiplica e e a vida e o tempo correm nas veias, riachos de cobres repletos de mel.

Os sinos repicam e a gente do lugar renasce a cada florada do café, a cada junta de boi que corta a manhã sonolenta de tuas estradas, num canto ou assovio do homem trabalhador das Gerais.

Somos, com orgulho, nascidos nesta terra de heróis desbravadores do bem, alicerçados na esperança cativa das alfândegas do éden.

A saia, em transparência,  flutua.
Tão passarinha que ouço o som de suas ondulações.
O voo solo em agulhas finíssimas, nas alturas, deixa a rua
silenciosa.
Somente o toc toc . O salto batendo nas pedras.
Toc-toc-toc.
A musa de todos os anseios dadaístas, num passe, se faz lampejo de canhões a laser.
Olhares gulosos por todas as janelas,
por todas as esquinas,
andaimes,
venezianas,
varandas.
Suspiros.
Somente a textura da blusa resiste ao vento que espalha os cabelos e o perfume de flor de laranjeira.
Desestabilizando os instintos,
ela passou,
e se foi
Altiva.
Então os corações voltaram a bater
sincopados.