Tua palavra não se enquadra no que quero escrever,
neste primeiro de maio.
Nem o som, nem o fonema, tampouco o significado.
Não me desfaço de tudo que ouço,
mas também não registro mentiras parvas.
Não há o que comemorar. Não há vagas!
Não vejo os rostos, vejo olhos n’água,
que desfilam na grama da Esplanada.
Não há risos soltos.
Há um séquito de desamparados.
Neste primeiro de maio,
não há queima de fogos,música,
canto ou gente animada.
A não ser os pedidos de emprego que escuto.
As súplicas por um salário.
Há dor estampada na cara.
De quem não sabe como pagar as contas,
amontoadas na gaveta do armário.
Não é tempo de flores.
Não há mesa posta.
Só escuto os clamores.
gracia cantanhede